Tuesday, October 31, 2006

Esperança!

Hoje é um dia muito importante para mim,
Mais uma etapa na minha vida ultrapassada!
Apartir de agora sinto que chegou a minha vez de tentar ser feliz, ao fim de 42 anos!!!
Obrigada a todos os que me apoiaram nesta fase tão dificil.
Escolhi este poema do Drummond de Andrade, pela mensagem que transmite!
Muitos abraços cheios de beijinhos
*b

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Namorado


...

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou largatixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos de amor com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

...

C.Drummond de Andrade

Para ler o poema completo clique no titulo e selecione poetas brasileiros, dp Drummond, dp Namorado ;)

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Monday, October 30, 2006

Esculturas de Antony Gormley


no princípio era o corpo


Mas isto não é um corpo.
É uma maçã, diz Magritte. Ou talvez não.
Apenas um poema em construção.
Um acto de criação.
A criação em acção.
Um muro liso e branco.
O muro. O fio de prumo.
O pêndulo. A corda. O cadafalso.
A linha do horizonte na vertical.
A luz ao fundo do túnel.
O fio de Ariane que te conduz
No labirinto.

Se o em si existe
É esta porção de mundo
Que está ao alcance da tua mão.
Um círculo. A exacta circunferência
Desenhada pelo teu dedo
Na areia da praia onde arribaste.
Ou poderia ter sido o dedo do deus
De Miguel Ângelo.
Ou outra criatura. Ou outro criador.

Noticia em português

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Sunday, October 29, 2006

El Sur

Photo by: Miguel Andrade

Desde uno de tus patios haber mirado
las antiguas estrellas,
desde el banco de
la sombra haber mirado
esas luces dispersas
que mi ignorancia no ha aprendido a nombrar
ni a ordenar en constelaciones,
haber sentido el círculo del agua
en el secreto aljibe,
el olor del jazmín y la madreselva,
el silencio del pájaro dormido,
el arco del zaguán, la humedad
-esas cosas, acaso, son el poema.

Jorge Luis Borges

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Friday, October 27, 2006

Prelúdio


Photo by:José Silva Pinto

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos,
nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...

É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...

Alda Lara

Dedico este post ao Paulo de Carvalho que canta e encanta com este poema, e que eu muito admiro! Obrigada pelo apoio .

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Thursday, October 26, 2006

Deixa a Mão


Deixa a mão
caminhar
perder o alento
até onde se não respira.

Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com nácar da língua.

Só um grito desde o chão
pode fulminá-la.

A morte
não é um segredo
não é em nós um jardim de areia.

De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.

Vou ensinar-te como se reconhece
repara
é ainda um rapaz
não acaba de crescer
nos ombros
a luz
desatada
a fulva
lucidez dos flancos.

A boca sobre a boca nevava.

Eugénio de Andrade

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Tuesday, October 24, 2006

Beijo

photo by: Andre Boto

Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.


Jorge de Sena

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Sunday, October 22, 2006

Lettera amorosa



Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

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Wednesday, October 18, 2006

O CORPO NÃO ESPERA

Photo by: Alba Luna

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sêde, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
Jorge de Sena

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Sunday, October 15, 2006

Loja de nuvens

Photo by:Ciuco Gutierrez
Que bom que seria se esta loja existisse!

Perguntai ao muro

photo by: Paulo Melo
Muro, em que meditas
ao longo da estrada, por estas quintas,
casas, ermos, entre paixões
de alma dos espectros
presentes e vindouros? E os vivos,
porque se escondem
por trás da tua fronte alta,
quieta, seca, que cobiça os astros,
sem saber que o teu corpo
de xisto corre, avança,
mas não pode soltar-se da Terra
e alcançar o Alto?



Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas
edições quasi

Thursday, October 12, 2006

O DOM DA POESIA

photo by: Victor Galhetas

Deixa a palavra escorregar, Como um jardim o âmbar e a cidra, Magnânimo e distraído, Devagar, devagar, devagar.

Boris Pasternac

Tuesday, October 10, 2006

a minha Lua :)


photo by:moonlover

Monday, October 09, 2006

Lua no Luzboa 2006


photo by: moonlover

Wednesday, October 04, 2006

Chamo-Te

photo by: João Dias

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Monday, October 02, 2006

Que música escutas tão atentamente

photo by: Pedro Vieira de Sousa

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade
(Coração do dia)